Minicurso 3 | IV Congresso 2024

MINICURSO 3

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1. Título: O pessoal é político: as mulheres quadrinistas nos séculos XX e XXI

2. Proponente: Júlia Juliêta Silva de Brito (Carga horária 4 horas)

3. Titulação e vínculo institucional: Mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

4. Quantidade de vagas: livre

5. Ementa: Através de um trabalho adulto, identitário e confessional, as mulheres têm utilizado os quadrinhos contemporâneos como forma de expressão pessoal, preenchendo lacunas na representação feminina nas HQs e desenvolvendo relatos de autoafirmação e resistência. Esses relatos contribuem para um espaço que desafia estereótipos de gênero e sexualidade, explorando a relação peculiar dos quadrinhos com narrativas de memória, autobiográficas e de desenvolvimento. Nesse contexto, o minicurso propõe uma discussão sobre as narrativas gráficas produzidas por mulheres nos séculos XX e XXI, destacando testemunhos fracturantes em histórias em quadrinhos de autoria feminina. Serão abordadas produções de cartunistas como Trina Robbins, Roberta Gregory, Alison Bechdel e Marjane Satrapi, que utilizam a linguagem verbo-visual como espaço de autorrepresentação e relatos de si, destacando identidades interseccionais. Pretende-se realizar uma historicização e análise dos quadrinhos de mulheres lésbicas, com base em um levantamento de produções acadêmicas, evidenciando os principais estudos e contextos socioculturais que fundamentam essa linha de pesquisa. O objetivo é examinar como os quadrinhos refletem transformações sociais, promovem o protagonismo lésbico e a autoria feminina no contexto estadunidense e exploram a expansão global das narrativas queer, consolidando os quadrinhos como veículo de visibilidade e representação das experiências homoafetivas de mulheres.

6. Desenvolvimento:

No primeira dia, focaremos na parte teórica, discutindo os conceitos e teorias:

As discussões estão fundamentadas nas bases teóricas norteadoras sobre a linguagem dos quadrinhos e narrativas gráficas enquanto arte sequencial e narrativa gráfica (Eisner, 1989; 2005), na relação dos quadrinhos com outras linguagens (Barbieri, 2017) e em seu sistema, estrutura e percurso histórico (García, 2012; Groensteen, 2015; Postema, 2018). Sob essa perspectiva, o tópico central desse minicurso é a presença feminista e lésbica nos quadrinhos, de maneira a ser compreendida enquanto fenômeno social que representa a relação entre o privado e o político.
Nesse sentido, incluimos conceitos acerca da existência lésbica, continuum lésbico e heterossexualidade compulsória, cunhados por Adrienne Rich (1980); os problemas de gênero desenvolvidos por Butler (2022); e feminismo lésbico e noções de gênero (Beauvoir, 1967; Wittig, 2022). Também a noção de interseccionalidade delineada por Kimberlé Crenshaw (1989); a abordagem de lugar de fala proposta por Djamila Ribeiro (2019); o perigo de uma história única (Adichie, 2019); além das intersecções defendidas por Spivak (2010); Adichie (2019); Truth (2020); Lorde (2021). Também pretendemos discutir textos que partem de um cruzamento entre quadrinhos e mulheres, como: os livros como Graphic Women (2010) e Why Comics? (2017), de Hillary Chute, que exploram a presença feminina nos quadrinhos contemporâneos, e trabalhos como a dissertação Sem linhas retas: gênero e sexualidade nas Graphic Novels (2018), de Monique Carvalho, que verifica a representação de gênero e sexualidade nas novelas gráficas, também ao texto Protagonismo e experiência lésbica nos quadrinhos estadunidenses: uma análise de Dykes to Watch Out For (2020) de Priscilla Costa, que analisa a experiência lésbica nos quadrinhos. Para tanto, ao explorar narrativas gráficas contemporâneas, pretendemos enfatizar a relevância das vozes femininas que ecoam na cápsula do tempo no universo das HQs, de maneira a apreciar criticamente e contribuir para um ambiente de diálogo representativo.

Data: 19 de maio de 2025

Horário: 8h às 10h

Quanto ao segundo dia, será focado na leitura e análise das obras, alguns quadrinhos selecionados para discussão são:

Os coletivos femininos da década de 1970 a 1990;
Você é minha mae? Um drama em quadrinhos (2013), de Alison Bechdel;
Persépolis (2000), de Marjane Satrapi;
O essencial de perigosas sapatas (2021), de Alison Bechdel
Bordados (2003), de Marjane Satrapi;
Spinning (2019), de Tillie Walden;
Fun Home (2018), de Alison Bechdel;
A diferença invisível (2021), de Julie Dachez e Mademoiselle Caroline.

Data: 20 de maio de 2025

Horário: 8h às 10h

7. Objetivo principal:

Analisar as narrativas gráficas produzidas por mulheres nos séculos XX e XXI, destacando histórias em quadrinhos de autoria feminina como espaços de autorrepresentação, resistência e reflexão sobre identidades interseccionais, com ênfase na representação de mulheres lésbicas e nas transformações sociais refletidas nesses relatos.

7.1 Objetivos específicos:

Discutir as produções de cartunistas como Trina Robbins, Roberta Gregory, Alison Bechdel e Marjane Satrapi, analisando como utilizam a linguagem verbo-visual para criar relatos de si e afirmar suas identidades;
Apresentar conceitos teóricos sobre as linguagens dos quadrinhos, a teoria feminista e os estudos lésbicos e interseccionais;
Apresentar uma breve historicização e análise dos quadrinhos de mulheres lésbicas, a partir de um levantamento de produções acadêmicas e contextos socioculturais que fundamentam essa linha de pesquisa;
Contextualizar como os quadrinhos refletem as mudanças sociais, o protagonismo lésbico e a autoria feminina.

8. Diálogo: Acreditamos que o minicurso dialoga com o III Congresso Internacional de Humanidades Digitais, Cultura e Ensino & IV Simpósio sobre Mídias, Tecnologias e História ao explorar a historicização e análise de quadrinhos produzidos por mulheres, especialmente narrativas gráficas de temática lésbica, sob perspectivas culturais, tecnológicas e educacionais. Ao abordar questões de gênero e sexualidade nas HQs, o minicurso contribui para reflexões sobre representatividade e memória nas narrativas verbo-visuais, alinhando-se ao debate sobre mídias como ferramentas de transformação social e pedagógica. Além disso, considera a relevância das tecnologias digitais na produção, circulação e análise de histórias queer, relacionando-se aos interesses das humanidades digitais e aos diálogos interculturais do evento. Essa proposta reforça a relevância dos quadrinhos como documentos históricos e culturais, de modo a valorizar o protagonismo lésbico e a autoria feminina enquanto parte do crescente diálogo sobre diversidade nas mídias contemporâneas.

Referências

ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

BARBIERI, Daniele. As linguagens dos quadrinhos. Trad. Thiago de Almeida C. Amaral. São Paulo: Peirópolis, 2017.

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